O teatro potiguar está cada vez mais pobre, que o digam os 23 grupos contemplados há quase três anos nos editais Lula Medeiros de Teatro de Rua e Chico Vila de Circulação. Pendentes desde 2009, o valor total dos editais não ultrapassa os R$ 220 mil brutos e, apesar do baixo custo do investimento diante dos benefícios, a Fundação José Augusto/Secretaria de Cultura já avisou que não há previsão de pagamento. Nem desses, nem dos outros dois prêmios que estão na mesma situação - quadrinhos (R$ 40 mil) e audiovisual (R$ 80 mil).
Vira e mexe e o assunto volta à tona, dessa vez a reboque da cobrança pública feita por três grupos de Janduís, oeste do RN, durante passagem da secretária Isaura Rosado (FJA/Secult-RN) pelo município no último dia 11, onde foi apresentar o projeto do recém-criado Fundo Estadual de Cultura. "Com esses prêmios (R$ 8 mil para cada grupo) fazemos um movimento maior do que muita gente com R$ 100 mil", garantiu Lindenberg Bezerra, diretor da Fundação Cultural de Janduís e artista do grupo Ciranduís. "Se teve dinheiro pra financiar a turnê de Arthur Moreira Lima pelo RN (em dezembro), que recebeu R$ 300 mil, então o problema não é falta de verba".
Além do Ciranduís, que completa 18 anos de atividades em 2012 e foi selecionado nos dois editais de teatro, os grupos Balai de Arte e Filhos do Sol (ambos contemplados no Lula Medeiros) também aguardam uma definição do Governo do RN. "A secretária nos deu uma resposta muito fria, disse que o Governo está pagando dívida passadas, falou no lançamento de novos editais, e que não há previsão para pagamentos dos pendentes. Os gestores precisam entender que estamos cobrando o Estado, e não esse ou aquele Governo", disse Bezerra. "Aqui no interior é uma dificuldade enorme trabalhar com arte e cultura, não recebemos apoio Federal, e é lamentável como estão tratando esse assunto. É uma questão de política?", questiona.
Vale salientar que Janduís, distante cerca de 290 da capital potiguar, é visto como um pólo nacional de teatro de rua com reconhecimento nacional e internacional. A cidade sedia há duas décadas o Movimento Escambo de Teatro Livre de Rua, que em 2011 reuniu artistas populares do RN, Ceará, Pernambuco, Maranhão, Pará, Distrito Federal, São Paulo, Rio de Janeiro, RS e de Rosário, na Argentina.
Para não desaparecer, informou Lindenberg, os grupos que atuam em Janduís se uniram para planejar 2012 de forma conjunta. "Estamos nos juntando, assim ficamos mais fortes", aposta. Detalhe: nenhum dos artistas daquele município vive da própria arte. "É um sonho que estamos batalhando", disse Ana Célia, do grupo Bailai de Arte, que tem 20 anos de teatro.
O ator Rodrigo Bico lembrou que "a FJA chegou a lançar a proposta de se criar, no fim do ano passado, um edital para montagem de Autos e que os grupos que ganharam os prêmios em 2009 iriam ser incorporados. Os grupos não aceitaram e o edital não foi lançado".